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Policial penal com transtornos psiquiátricos assegura liminar de readaptação funcional

Servidor do sistema prisional de Goiás obtém decisão judicial que garante realocação provisória em atividade administrativa após comprovar quadro psiquiátrico grave agravado pelo ambiente de trabalho.

8 min de leitura
Policial penal com transtornos psiquiátricos assegura liminar de readaptação funcional

Um policial penal do Estado de Goiás obteve decisão liminar que garante sua readaptação funcional provisória, após comprovar apresentar quadro psiquiátrico grave agravado pelo ambiente de trabalho. O servidor, que atua há mais de duas décadas no sistema prisional e estava lotado em unidade feminina no interior do estado, teve inicialmente o pedido administrativo de readaptação negado, apesar de apresentar diversos laudos que apontavam incompatibilidade entre seu estado de saúde e as atribuições do cargo.

Os documentos médicos apresentados ao Judiciário foram elaborados por profissionais de psicologia, neuropsicologia, psicanálise e psiquiatria. Eles descrevem sintomas como ansiedade persistente, hipervigilância, ataques de pânico, humor deprimido e episódios psicóticos, relacionados a traumas acumulados durante a atuação no ambiente prisional.

Detalhes do Caso

Servidor: Policial penal com mais de 20 anos de atuação no sistema prisional

Lotação: Unidade prisional feminina no interior de Goiás

Quadro Clínico: Transtornos psiquiátricos graves agravados pelo ambiente de trabalho

Pedido Administrativo: Negado inicialmente pela administração

Decisão Judicial: Liminar concedida determinando readaptação funcional provisória

Quadro Clínico Documentado

Para o magistrado responsável pelo caso, a permanência do servidor em contato direto com pessoas privadas de liberdade representava risco concreto de agravamento de sua condição clínica. Os laudos médicos apresentados descrevem um quadro complexo de sintomas psiquiátricos:

Sintomas Identificados

Ansiedade Persistente:

Estado constante de tensão e preocupação relacionado ao ambiente de trabalho

Hipervigilância:

Estado de alerta excessivo e constante, característico de traumas ocupacionais

Ataques de Pânico:

Episódios agudos de medo intenso e sintomas físicos incapacitantes

Humor Deprimido:

Sintomas depressivos relacionados ao estresse ocupacional crônico

Episódios Psicóticos:

Manifestações graves relacionadas a traumas acumulados durante décadas de atuação

Fundamentação da Decisão Judicial

Com base na análise dos laudos e na constatação de que o retorno ao ambiente prisional poderia causar prejuízos irreversíveis, o juiz reconheceu a presença dos requisitos para concessão da tutela de urgência: probabilidade do direito, demonstrada pela robustez técnica das avaliações médicas, e perigo da demora, em razão do risco à saúde do servidor.

Assim, foi determinada sua alocação temporária em atividade administrativa, fora das dependências do presídio, até que seja realizada avaliação definitiva pela junta médica oficial.

Requisitos para Tutela de Urgência

Probabilidade do Direito: Demonstrada pela robustez técnica das avaliações médicas multidisciplinares que atestam a incompatibilidade entre o estado de saúde do servidor e suas atribuições funcionais.

Perigo da Demora: Risco concreto de agravamento irreversível da condição clínica do servidor caso permanecesse no ambiente prisional durante a tramitação do processo.

A presença simultânea desses requisitos justificou a concessão da liminar de readaptação funcional provisória.

Aspectos Jurídicos da Readaptação Funcional

Do ponto de vista jurídico, a decisão reafirma obrigações constitucionais da administração pública, especialmente quanto à proteção da saúde do servidor e à adoção de condições adequadas de trabalho. A readaptação funcional, prevista no regime jurídico dos servidores públicos, é mecanismo destinado a realocar o agente em função compatível quando há limitação física ou mental que impeça o desempenho das atribuições originais.

A negativa administrativa, diante de laudos conclusivos que contraindicam a permanência na função, pode configurar violação ao direito fundamental à saúde e aos princípios constitucionais que regem a administração pública.

Base Legal da Readaptação Funcional

  • Constituição Federal: Direito fundamental à saúde e dignidade da pessoa humana
  • Regime Jurídico dos Servidores: Previsão expressa do instituto da readaptação funcional
  • Princípios Administrativos: Dever de proteção à saúde e segurança do servidor
  • Legislação Trabalhista: Normas sobre doenças ocupacionais e adaptação de condições de trabalho

Implicações para a Administração Pública

Para especialistas em Direito do Serviço Público, o caso evidencia a necessidade de atuação mais diligente da administração em situações que envolvem doenças ocupacionais ou transtornos agravados pelo trabalho. Recomenda-se que o Estado desenvolva protocolos de acompanhamento contínuo, sobretudo em carreiras com alto nível de estresse, como a policial penal.

Também se destaca a importância de decisões rápidas e fundamentadas nas esferas administrativa e judicial, a fim de evitar danos irreversíveis aos servidores. A demora na análise de pedidos de readaptação pode agravar quadros clínicos e gerar responsabilização do Estado.

Recomendações para a Administração

1
Protocolos de Acompanhamento:

Implementar sistemas de monitoramento contínuo da saúde mental de servidores em carreiras de alto estresse

2
Análise Célere:

Estabelecer prazos reduzidos para análise de pedidos de readaptação com base em laudos médicos

3
Prevenção:

Desenvolver programas de prevenção e apoio psicológico para servidores do sistema prisional

4
Capacitação:

Treinar gestores para identificar sinais precoces de adoecimento mental nos servidores

Judicialização e Direito à Saúde

O processo reforça, ainda, que a judicialização tende a ocorrer quando há negativa administrativa injustificada, especialmente diante de provas médicas consistentes. A liminar concedida demonstra a centralidade do direito à saúde e evidencia que a adaptação das condições de trabalho é medida indispensável para garantir a dignidade e a integridade física e mental do servidor público.

A decisão serve como precedente importante para casos similares e reforça a necessidade de que a administração pública atue de forma preventiva e responsiva em relação à saúde mental de seus servidores, especialmente aqueles que atuam em ambientes de alto risco psicossocial.

Principais Lições do Caso

  • Valorização de Laudos Médicos: Avaliações técnicas multidisciplinares têm peso decisivo na análise judicial
  • Proteção à Saúde Mental: Direito fundamental que deve prevalecer sobre formalidades administrativas
  • Doenças Ocupacionais: Estado tem responsabilidade sobre adoecimento relacionado ao trabalho
  • Tutela de Urgência: Instrumento adequado quando há risco de dano irreversível à saúde
  • Readaptação Funcional: Direito do servidor quando comprovada incompatibilidade com função original

Conclusão

A decisão que garantiu a readaptação funcional do policial penal representa um importante marco na proteção da saúde mental de servidores públicos que atuam em ambientes de alto estresse. O caso evidencia que o Estado não pode se omitir diante de quadros clínicos graves comprovados por laudos médicos consistentes.

Para além do caso concreto, a decisão sinaliza a necessidade de mudanças estruturais na forma como a administração pública lida com a saúde mental de seus servidores, especialmente aqueles que atuam no sistema prisional. A prevenção, o acompanhamento contínuo e a resposta rápida a sinais de adoecimento são medidas essenciais para evitar a judicialização e, principalmente, para proteger a dignidade e a integridade dos agentes públicos.

Fonte: Tribunal de Justiça do Estado de Goiás

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